Jovens: aprendam a jogar esse jogo.

Ontem um jovem profissional, há cinco anos na empresa, parte do time de uma das maiores corporações do planeta no segmento de bens de consumo, me perguntou como ele poderia acelerar sua carreira. Compartilhou seus medos, crenças próprias da geração e fiquei pensando em como ajudá-lo.

Eu tinha acabado de ler o relatório Workforce 2025 da Korn Ferry que aponta cinco grandes mudanças no mundo do trabalho que afetam diretamente essa turma e estou numa jornada para escrever um livro sobre esse público.

O mercado de trabalho vem mudando constantemente e muitas das referências já não servem para os jovens. E assim, eles estão perdidos no início da carreira, sobretudo nas grandes empresas globais. Ele se sente pressionado para ser promovido logo, ganhar mais, ser reconhecido.

Ainda não sabe como lidar com seus pares e seus gestores nem sabe como se tornar um gestor ou especialista, mas quer ser importante, relevante e ter algum poder. Seu maior problema é que ele não sabe como percorrer o caminho para alcançar esses objetivos, e sente-se correndo contra o tempo.

Na tentativa de ajudar, comecei falando de algumas perspectivas e, ao final, das quatro disciplinas que ele deveria dominar.

O mundo corporativo está cada vez mais instável e repleto de conflitos geracionais. A boa notícia: isso pode jogar a seu favor, mas se você souber se posicionar e criar espirais de movimento.

O relatório Workforce 2025 da Korn Ferry aponta cinco grandes mudanças no mundo do trabalho que afetam diretamente sua carreira (pesquisei mais seis durante a escrita do livro). E aqui vai o resumo que ninguém vai te dar: se você é jovem, está por sua conta. Porém, isso pode ser uma vantagem.

1. Faltam gestores e sobram oportunidades para quem assume a bronca

As empresas estão cortando camadas de gestão para reduzir custos. Resultado? Um mar de profissionais (inclusive sêniores) se sentindo perdidos, sem direção. Se você é jovem e quer crescer, ocupe esse vácuo. Comece a liderar sem ter cargo. Organize, comunique, resolva.

Os holofotes vão se voltar para você, porque não há mais gestores suficientes para isso (algumas exceções estão em grandes empresas que fugiram dos grandes centros industriais no Brasil).

2. Salário importa, mas não é o jogo todo

O custo de vida disparou. E 70% das pessoas acham que ganham menos do que deveriam. Mas o mesmo estudo mostra que ninguém quer trocar um chefe confiável por um salário maior.

Ou seja: se você quer se manter relevante, foque em se tornar um desses chefes. Mesmo antes de ser promovido. Como? Demonstrando coragem, fugindo das desculpas verdadeiras, criando confiança, entregando resultado e se protegendo das loucuras do dia a dia.

3. A inteligência artificial não vai esperar você aprender

Brasil é um dos países mais otimistas com a IA, mas isso tem a ver com uma coisa só: quem recebeu treinamento, gostou. Quem não recebeu, tem medo. Você não pode terceirizar seu futuro para o RH.

Se a empresa não te ensina, ensine a si mesmo. Comece com uma tarefa simples: descubra como automatizar 10% do seu trabalho com IA. A produtividade vai te destacar, pois boa parte do jogo continua sendo eficiência.

4. Geração Z quer respeito, mas ainda não entendeu que precisa entregar antes de exigir

Você não gosta de ser microgerenciado, odeia reuniões inúteis e quer equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Justo. Mas antes de brigar por isso, pergunte: você já está entregando acima da média? Porque o mercado ainda recompensa quem resolve, não quem reclama.

A regra é clara: liberdade se conquista com maturidade. Ganhe autonomia pela via do resultado. Estamos vivendo o maior encontro de gerações na história do mundo corporativo. Aproveite essa festa!

5. Oportunidade não faltam, mas falta preparo

O relatório mostra que, mesmo com toda a instabilidade, a maioria dos profissionais acredita que conseguiria um novo emprego se quisesse. Isso é ótimo. Mas para você sair do lugar, precisa construir três coisas:

  • Tome riscos calculados (tenha coragem para se posicionar, mas considere o contexto e a forma)
  • Reputação (faça mais do que esperam);
  • Influência (se conecte com quem decide);

Depois dessas ponderações, recomendei estudar sobre as quatro disciplinas da Espiral do Movimento, pois os jovens profissionais que as dominam aceleram suas carreiras. Pense comigo:

Você acabou de entrar numa grande empresa. Recebeu um crachá, um cantinho para trabalhar, uma vontade absurda de mostrar serviço e uma angústia silenciosa que ninguém te ensinou a nomear. Quer crescer rápido. Ser notado. Ter uma carreira que faça sentido.

Você sente ansiedade, ainda não sabe como as coisas funcionam, ainda não entendeu como o seu gestor trabalha e as pernas tremem só de pensar nas conversas de feedback sobre comportamentos e desempenho. Tem medo de parecer fraco, imaturo ou, pior, invisível.

Ao mesmo tempo, desconhece muitas coisas sobre as capacidades técnicas e comportamentais necessárias para atuar bem no mundo do trabalho, talvez carregue uma arrogância sutil ao se posicionar, pode parecer cheio de verdades e julgamentos sem considerar o ambiente.

Quer agradar sem parecer bajulador. Gasta horas fazendo tarefas urgentes sem saber se realmente são relevantes para a empresa. Já pensou em pedir demissão, pois a pressão é enorme e todos estão falando de assédio ou saúde mental. Ninguém te explicou que no começo de uma grande carreira, quase tudo é confuso, parece injusto e ambíguo.

Para tornar tudo ainda mais desafiador, percebe que há pessoas de todas as gerações, ou seja, cada uma com seus valores, crenças, virtudes, vícios e vieses.

O problema é que você ainda não sabe como funciona o jogo no mundo corporativo e nesse momento o caminho é definir intencionalmente quais movimentos precisa fazer:

a) Estalos – momento em que a inquietude gera energia para a criatividade, ideias, hipóteses, possibilidades ou algo parecido. Nascem vontades, emoções e sensações de potência para o movimento. Você tem insights, muda de perspectiva, é provocado a assumir seu posicionamento e começa a acreditar que dá para resolver as coisas que, até o momento, apareciam só como reclamações;

b) Autocompromisso – capacidade de fazer o que precisa ser feito com esperança, consistência, sem usar desculpas verdadeiras e orientado pela própria identidade. A descoberta da própria autenticidade para que você faça o que precisa ser feito, mesmo com obstáculos ao longo do caminho. Nascem bons hábitos, virtudes e ninguém pode fazê-lo desistir.

c) Planos – capacidade de organizar de maneira lógica, racional e simples sobre como realizar os movimentos. Pense grande, mas dê pequenos passos.

d) Conexões – capacidade de construir fortes redes de apoio aos movimentos por meio de influência e persuasão. Pessoas que apoiem o movimento diante dos obstáculos e vitórias. Ninguém chega longe sozinho.

O mundo do trabalho na próxima década não me parece muito acolhedor para os profissionais em seus primeiros passos. Ao final, lembrei do genial Nelson Rodrigues: “jovens, envelheçam”.

 

Alcir Miguel

Sócio e executivo de negócios na Movidaria.

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